terça-feira, 8 de maio de 2012

NATUREZA: Boca do Acre concentra 700 espécies de aves da Amazônia

                            O Urutau-ferrugem (nyctibius bracteatus é uma ave noturna. É dificilmente avistado e muito procurados por observadores de aves. Foto: Mario Cohn-Haft. 
   
MANAUS – Pesquisadores registraram a presença de 380 espécies de pássaros no município de Boca do Acre (a 1.028 quilômetros de Manaus). O levantamento é resultado do primeiro inventário realizado na localidade. Com apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o registro dos dados aconteceu entre os dias 28 de novembro e 10 de dezembro de 2011.

Segundo o estudioso do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Mario Cohn-Haft, a explicação para esta extraordinária biodiversidade está na diversidade de ambientes que ocorrem na área. “Estimamos que ocorram na região, aproximadamente 700 espécies, ou seja, mais da metade de todas as aves amazônicas. A região representa o ponto de encontro entre a avifauna da Amazônia central com a típica da Amazônia peruana ou acreana. O resultado dessa mistura é uma diversidade estupenda”, destacou Cohn-Haft.
Liderado pela pesquisadora Camila Ribas, o inventário se focou em pesquisar a avifauna residente em manchas de campinas naturais (vegetação baixa que lembra o Cerrado) cercadas por Floresta Amazônica. A maior dificuldade de estudar esse tipo de ambiente é o acesso às áreas. Mas, para os pesquisadores, o diferencial do trabalho na região de Boca do Acre foi a facilidade para chegar ao local, feito por terra e com estrutura logística viabilizada.
Durante os trabalhos a equipe realizou um inventário no interior da Floresta Nacional do Purus, no rio Inauini. Ao longo deste rio ocorrem manchas de florestas com bambus nativos (tabocais). Para pesquisar os tabocais, os pesquisadores contaram com o apoio logístico do projeto de pesquisa da Diversidade e Caça de Mamíferos e Quelônios na Floresta Nacional do Purus, que vem sendo conduzido pelo chefe da unidade, Ricardo Sampaio.
Para Sampaio, o primeiro inventário ornitológico na região vai contribuir para a gestão da unidade de conservação e para formulação do plano de manejo da Floresta Nacional do Iquiri. “De forma integrada podemos aumentar o número de pesquisas realizadas em nossas UC. A região de Boca do Acre é importantíssima biogeograficamente. A ideia é fomentar o ecoturismo na região, gerando renda de forma sustentável aos moradores tradicionais, além de melhorar a estrutura logística de ambas as florestas e do escritório regional do ICMBio”, afirmou Sampaio.
Potencial
Boca do Acre é cercado por diversos tipos de floresta, incluindo matas de terra firme, com e sem taboca, mata de várzea, campinarana e as campinas. Cada ambiente apresenta espécies particulares de aves. No meio de todos esses pássaros estão algumas espécies raras ou muito procuradas por observadores de aves como, por exemplo, o maracanã-de-cabeça-azul (Primolius couloni), a choca-do-bambu (Cymbilaimus santaemariae), a choca-preta (Neoctantes niger), o formigueiro-do-bambu (Percnostola lophotes), a garrincha-cinza (Cantorchilus griseus), a pipira-azul (Cyanicterus cyanicterus), e uma espécie nova de gralha (Cyanocorax sp.), ainda não descrita formalmente pela ciência.
A concentração das aves faz do município um potencial para o ecoturismo, atividade que movimenta milhões de dólares no mundo todo e representa uma alternativa de renda para moradores locais. “Em poucos dias detectamos todas as cinco espécies de urutaus, aves noturnas da família da “mãe-da-lua”, que são pouco conhecidas. A última e talvez mais rara dessas, o urutau-ferrugem (Nyctibius bracteatus) só foi encontrado porque o morador que estava nos ajudando reconheceu uma foto do animal e nos levou para a localidade onde disse ter visto um há poucas semanas, próximo aos tabocais, na Floresta Nacional do Purus”, comentou Cohn-Haft.
O fato destaca a importância dos moradores tradicionais, residentes das unidades de conservação como colaboradores na pesquisa científica. “O apoio do ICMBio em Boca do Acre, e, em especial, dos moradores locais e da brigada de incêndio foram fundamentais no sucesso da expedição a áreas que normalmente são de difícil acesso. Poder chegar de carro a um exemplar tão grande e bem preservado de campina amazônica é um privilégio que não deve ser reservado somente para pesquisadores. O público merece ver isso”, concluiu o pesquisador.
As duas áreas estudadas são Florestas Nacionais, categoria de unidade de conservação, criadas com o objetivo de uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e pesquisa científica, voltada para a descoberta de métodos de exploração sustentável.

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